ATA DA OITAVA SESSÃO ESPECIAL DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA PRIMEIRA LEGISLATURA, EM 16.11.1993.

 


Aos dezesseis dias do mês de novembro de ano de mil novecentos e noventa e três reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Oitava Sessão Especial da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Primeira Legislatura. Às quinze horas e quinze minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente decla­rou abertos os trabalhos da presente Sessão Especial, destinada a entrega do Titulo Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Manoel Antonio Sarmanho Vargas, de acordo com o Projeto de Lei do Legislativo nº 256/91 (Processo nº 3001/91) , de autoria do Vereador Eloi Guimarães, aprovado por unanimidade. Compuse­ram a Mesa: o Vereador Wilton Araújo, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; os Senhores Tarso Genro, Prefeito Municipal de Porto Alegre; Manoel Antonio Sarmanho Vargas, homenageado; Jornalista Firmino Cardoso, representante da Associação Riograndense de Imprensa; Nelson Souza Rassier, Juiz do Tribunal de Alçada; Senhora Vera Vargas, esposa do homenageado e o Vereador Eloi Guimarães, Secretário “ad hoc”. Após, o Senhor Presidente convidou a todos para, de pé, ouvirem o Hino Nacional. Em prosseguimento, concedeu a palavra ao Vereador Eloi Guimarães que, em nome de todos os Partidos desta Casa e da Mesa, saudou os presentes e disse ser singela a homenagem conferida ao Senhor Manoel Antonio Sarmanho Vargas, afirmando ser um resgate o que a Cidade faz a uma pessoa que teve participação tão ativa no Governo do General Ernesto Dornelles, como Secretário da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul. Disse ter sido também, Prefeito de Porto Alegre, tendo assumido a Prefeitura quando o então Prefeito, Dr. Ildo Meneghetti, foi eleito Governador do Estado do Rio Grande do Sul. Recordou, ainda, a figura de seu pai, o grande estadista Getúlio Vargas que registrou um grande marco na história brasileira, pois à sua obra pouco se acrescentou no que diz respeito ao Direito Trabalhista. Falou que, rebuscando em papéis antigos, encontrou uma entrevista do homenageado, concedida ao Jornalista Wilson Machado, um ano após a morte de seu pai, a qual se referia a Carta Testamento e que foi lida para os presentes. Disse ser preciso preservar a nossa história para podermos passar às gerações futuras. Finalizou, agradecendo ao homenageado pelo esforço e pela dedicação à esta Cidade. A seguir, o Senhor Presidente registrou as presenças da Senhorita Betina Vargas, filha do Homenageado; do Coronel Sarmanho e esposa; da Jornalista Paula Gasparotto; dos Senhores Almerindo Paiva Guimarães e esposa; Henrique Enquin; Léo de Souza, representante da Direção Estadual da Juventude do PDT e Flávio Obino, Presidente do Sistema Financeiro do Estado do Rio Grande do Sul. Em conti­nuidade, o Senhor Presidente convidou o Senhor Prefeito Municipal, Tarso Genro, para proceder à entrega do Diploma e da Meda­lha ao Homenageado. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Tarso Genro, que cumprimentou os presentes e representando a cidadania falou do orgulho em receber o Doutor Manoel Antonio Sarmanho Vargas como Cidadão de Porto Alegre. Des­tacou a relação existente entre esta Cidade e o ex-Prefeito,uma personalidade política do nosso País, registrada com honradez e dignidade. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao homenageado, que agradeceu pelo Título recebido e falou das mudanças sofridas nesta Cidade, na Câmara Municipal de Porto Alegre, afirmando ser agora, um ex-Prefeito gentilmente convidado para juntos recordar o passado. Destacou viver hoje, repartido entre esta Cidade e Itaqui, onde continua trabalhando na terra de herdou dos antepassados. Finalizou, elogiando a escolha do nome de Aloísio Filho para simbolizar o espírito desta Casa. Logo após, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, às dezesseis horas e quinze minutos declarou encerrados os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Especial a se­guir. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Wilton Araújo e secretariados pelo Vereador Eloi Guimarães, como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Eloi Guimarães, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE: Damos por abertos os trabalhos da presente Sessão Especial destinada a conceder o Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre a Manoel Antonio Sarmanho Vargas, por Requerimento do Ver. Elói Guimarães, aprovado pelos trinta e três Vereadores da Casa.

Já fazem parte da Mesa o Exmo Sr. Manoel Antonio Sarmanho Vargas, nosso homenageado, e o Exmo Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre Dr. Tarso Genro. Chamaria, ainda, o Exmo Sr. Juiz do Tribunal de Alçada, Dr. Nelson Souza Soares Rassier; o Ilmo Sr. representante da Associação Rio-Grandense de Imprensa, Jornalista Firmino Cardoso e a Ilma Srª Vera Vargas, esposa do homenageado.

Convidamos a todos para que, de pé, ouçamos o Hino Nacional Brasileiro.

 

(Ouve-se o Hino Nacional Brasileiro.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Ver. Elói Guimarães, proponente da concessão do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Sr. Manoel Vargas. O Ver. Elói Guimarães falará em nome de todas as Bancadas da Câmara Municipal de Porto Alegre e em nome da própria Mesa.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: Sr. Presidente da nossa Casa, Ver. Wilton Araújo; prezadíssimo homenageado Manoel Antonio Sarmanho Vargas, na intimidade Maneco Vargas, filho do Dr. Getúlio Vargas; sua esposa Dona Vera Vargas; amigo Prefeito Tarso Genro, também são-borjense; amigo e Juiz do Tribunal de Alçada, Dr. Nelson Souza Soares Rassier; e representando aqui a ARI o nosso amigo Jornalista Firmino Cardoso.

Encontram-se aqui muitos amigos, pessoas vinculadas a esta figura extraordinária que é Maneco Vargas. Não vou nomeá-las, porque posso deixar alguém de fora, senão nomearia todos, mas sintam-se nomeados. Nomear aqui o Coronel Sarmanho, que é parente do Dr. Maneco Vargas, que, no dia 18 próximo, estará assumindo em Santa Maria o Comando daquela região, Área 2, que envolve inclusive os Municípios de São Borja, Itaqui e toda aquela região da fronteira. Estão presentes, aqui, o meu pai, minha mãe e pessoas da família do Dr. Maneco e da Dona Vera, bem como seus filhos, não todos, evidentemente, porque compromissos não permitiram. Mas o Dr. Manoel Vargas tem quatro filhos: Iara Maria Vargas Dias, Getúlio Dorneles Vargas, Manoel Antonio Vargas Filho e Betina Tavares Vargas Figueiredo.

Enfim, esta é uma Sessão que a fizemos singela. Falo em nome do Ver. Jair Soares e seu Partido; também falo em nome dos demais partidos, conforme anunciou o Presidente Wilton Araújo, e, em nome especial, a pedido da Verª Maria do Rosário, que pedia para que eu usasse da palavra em nome de seu Partido. Enfim, é uma Sessão que encordoa toda aquela filosofia, todos aqueles sentimentos que inspiram os Vargas: a singeleza, a simplicidade, e todas essas coisas puras que nortearam, ao longo da história, a família dos Vargas, a família dos Sarmanhos.

Registro a presença dos Vereadores Jocelin Azambuja e Luiz Negrinho, que evidentemente usarão da palavra.

Dito isso, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, Dr. Maneco Vargas, esse título que a Câmara lhe conferiu e com isso resgatou, pelo que a Câmara representa, a síntese, delegação e expressão da vontade popular, esse título que ela concede pela unanimidade das presentes Bancadas aqui representadas. Esse título é um resgate, Prefeito Tarso Genro, é um resgate que a Cidade faz ao homenageado. O Maneco Vargas foi colega de Secretariado do Dr. Henkin, no Governo do Gen. Ernesto Dornelles. Todos nós sabemos que o Dr. Manoel Vargas foi Secretário da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul, e, na oportunidade, também exercia uma função no primeiro escalão do Governo o Dr. Henrique Henkin. Teve uma participação ativa, o homenageado, no labor que lhe deu o então Governador, e talvez tenha sido um dos responsáveis pelo desenvolvimento que o Rio Grande do Sul atingiu na produção primária, basicamente na atividade agropecuária. Lembrava outro dia, o Ver. João Dib, e pedia as escusas de não estar nesta homenagem em face de outros compromissos assumidos, que ficou, em certa oportunidade, muito impressionado - e talvez o senhor nem lembre - com uma entrevista que o senhor deu, com a sua análise, na Assembléia Legislativa, tratando de assuntos de interesse da agropecuária no Estado do Rio Grande do Sul. O Dr. Maneco Vargas nunca se dedicou à política; ele fez política, até eu diria, e  ele também me diz, por circunstâncias. Ele nunca quis aproveitar o enorme potencial que detinha o grande estadista latino-americano, Getúlio Vargas concorreu em 1952, tendo o Governador Brizola candidato a Prefeito, e o Maneco Vargas candidato a Vice. Naquela época o voto era desvinculado. O Dr. Ildo Meneghetti ganhou as eleições e o Mané, na Vice, também ganhou as eleições, porque o voto era desvinculado. Há quem diga, contemporâneos da época, que, se tivesse sido feita uma inversão na chapa, o Dr. Maneco teria ganho as eleições naquela oportunidade para a Prefeitura de Porto Alegre.

E tem um dado aí, infelizmente, nós somos um País, um povo, talvez até pela velocidade da informação, pela velocidade dessa era, desses tempos das comunicações, o Dr. Maneco Vargas saneou, Prefeito Tarso Genro, as finanças do Município de Porto Alegre, porque pegou o Município, quando Dr. Ildo Meneghetti assumiu o Governo do Estado, em situação dificílima, e talvez no seu discurso ele relembre esta fase de quando assumiu a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, teve que fazer um esforço enorme e teve resultado lá na frente, pois quando o Dr. Brizola se elegeu Prefeito, encontrou uma Prefeitura bastante saneada, bastante organizada para fazer a obra que realizou.

O Dr. Maneco Vargas nunca se dedicou, nunca quis, até pela modéstia que o envolve, nunca quis fazer política, sempre esteve participando, circunstancialmente, da história e das campanhas que de lá para cá se realizam.

Então, a Câmara Municipal de Porto Alegre presta aqui esta homenagem. Evidentemente, é uma homenagem que a Cidade  faz ao Dr. Maneco Vargas. Resgata uma dívida que a Cidade tinha. Mas também não se pode deixar de abstrair da homenagem esta figura imortal da América Latina, que foi a figura de seu pai, Getúlio Vargas. Temos dito, a história tem registrado, há um grande marco no curso da História Brasileira: a História Brasileira se conta até Getúlio e depois de Getúlio. Se examinarmos, hoje, as conquistas nacionalistas, as conquistas sociais, vamos ver que à obra que Getúlio concedeu, desde 1930, a obra que Getúlio concedeu para a posteridade pouco se acrescentou.

Eu diria que no terreno trabalhista, até se retirou, no direito obreiro, no Direito Trabalhista, ao invés de avançarmos, recuamos. Não se pode perder, então, esta oportunidade sem relacionar a grande figura, a figura histórica de Getúlio Vargas. Não sei se por uma tradição familiar, do meu pai, da minha família, aprendi, não sei se adorar Getúlio Vargas. Mas sempre vi naquela figura algo que ascendia até o plano material das coisas. Na Casa do meu pai onde morava sempre vi aquele retrato do Getúlio Vargas. E aqui estou referindo algo que se dá  com todas as famílias, principalmente as famílias antigas do Rio Grande do Sul  e de outros estados, mas principalmente do Rio Grande do Sul, onde está ali a figura imortal do Presidente Getúlio Vargas, pai do nosso homenageado.

Então, com estas palavras, gostaria de aproveitar aqui o tempo de que disponho para que, talvez, faça uma surpresa para o Dr. Maneco Vargas,  pois folheando lá os alfarrábios antigos, encontrei uma entrevista do Dr. Maneco Vargas, dada por ele um ano após a morte do Dr. Getúlio Vargas, onde define bem a segurança, a firmeza, o caráter, a sobriedade, a austeridade daquele que, há 40 anos, dava uma entrevista. E vou ler essa entrevista que refere-se, evidentemente, à Carta Testamento, documento bíblico para a História Brasileira.

A Carta de Vargas não é apócrifa.

Um ano após a crise dramática de agosto, Manoel Vargas, rompendo o silêncio em que se mantiveram, dignamente, todos os membros da família do Presidente Vargas, concedeu ao jornalista Wilson Machado importante entrevista divulgada em Manchete e que representa, sem dúvida, um documento político de grande importância. Ei-la: (Lê.)

“Repórter: Um ano passado, sobre o 24 de agosto, como encara o senhor aquele episódio? Responde Manoel Vargas: “Encaro como o dia fatídico em que perdi meu pai, meu maior amigo e guia espiritual. Desde a data encontro-me órfão de pai e de liderança. Como a maioria do povo brasileiro, sem fé e sem rumo certo. A quem atribui, pergunta o repórter, mais diretamente, as causas que o levaram à tragédia daquele dia? Responde Maneco Vargas: Já comecei a escrever um livro sobre esses acontecimentos. Será a minha contribuição ao povo brasileiro para maior conhecimento sobre todas as causas que direta ou indiretamente levaram-no ao desenlace daquele dia. É uma pergunta demasiado complexa para responder em uma entrevista.” Quando li esta resposta, sorria Dr. Maneco e Dona Vera porque ele está compendiando, reunindo material, deverá lançar, não sei se esse ano ou no ano que vem, o livro. “O repórter: Foi dito que a carta do General Juarez era uma circular e, assim, não podia merecer uma resposta pessoal como a que o senhor lhe deu. Que acha? Responde Maneco Vargas: Eu já havia encerrado esse assunto. Qualquer pessoa pode achar o que bem entender sobre a minha resposta ao candidato Távora. Circular ou não, recebi uma carta e dei a resposta que me cabia. Gostar dela ou não é um problema meu. Repórter: A herança política de Vargas não deveria caber a um seu filho? Responde Maneco Vargas: Vivemos numa democracia, onde o poder político não se transfere por herança, mas é conquistado através do sufrágio popular. Meu pai deixou sua carta ao povo brasileiro a quem pertence o seu testamento político. Repórter: Que acha da liderança que está sendo exercida por Jango? Maneco responde: Sou suspeito para falar a respeito de Jango, pois somos amigos há muitos anos, mas posso dizer que ele é um dos poucos políticos caracteristicamente nacionalistas que existem no Brasil. Outra pergunta: quais são seus planos após deixar a Prefeitura de Porto Alegre? Pretende prosseguir na política? Resposta: A coisa mais difícil neste mundo é prever o futuro. Nunca pretendi ser político e acabei sendo envolvido  pela política. Razões de ordem familiar obrigaram-me a entrar em questões municipais em São Borja. A morte de Salgado Filho lançou-me na política estadual. Circunstâncias alheias a minha vontade fizeram-me Prefeito de Porto Alegre. Que sei eu de meu futuro? Quero, como todo mundo, um pouco de paz, trabalhar e criar minha família.

O repórter pergunta: A Carta de Vargas deve ser usada como instrumento eleitoral?

Responde Maneco: A Carta de meu pai foi deixada ao povo brasileiro como seu testamento político, todos aqueles que quiserem prosseguir na sua obra e seguir suas idéias devem usá-la, se assim o desejarem, durante e após as eleições. Antes comprometer-se com ela, perante o eleitorado, e após, se forem eleitos, cumprindo a síntese programática que ela representa. Isso é o nacionalismo getulista.

 O repórter: Há os que afirmam ser a carta apócrifa, por não ter sido até hoje publicado o original da mesma, nem revelada a identidade da pessoa que a datilografou, que diz a isso?

Maneco responde: O ônus da prova cabe a quem duvida. Sei quem a datilografou e creio nela, não revelo o nome pois respeito o silêncio de um sentimental que ama o anonimato, assim como outros adoram a publicidade escandalosa.

Repórter: A aliança com o PSD é o melhor caminho para o PTB na defesa do patrimônio político de Vargas?

Responde: Sei que em vida ele sempre desejou um entendimento entre esses dois Partidos. Penso que somente após seu desaparecimento esse entendimento tenha sido possível. Caso contrário, seria hoje diferente a história do Brasil. O futuro a Deus pertence.

Repórter: Os filhos de Vargas devem continuar participando da vida política ou seu afastamento contribuiria para o desarmamento dos espíritos?

Responde: Trata-se de um problema de cada um. Mas acho que o afastamento poderia dar um resultado justamente contrário à tese apresentada. Veja a situação de calmaria política nesta Cidade, onde governam Vargas e respondo à sua pergunta.

Repórter: Como recebeu a declaração do General Juarez Távora, de que defenderia a permanência do Presidente no Governo até 31.1.1956? Resposta: Como uma declaração contestada pelos fatos. O importante não é o que um homem diz, mas sim o que ele faz.

Repórter: Vê semelhança entre os dias que precederam o 10 de novembro e os dias que estamos vivendo? Responde Mané: Não vejo, absolutamente, qualquer semelhança. Ninguém queira, hoje, atribuir ao Exército veleidades de liderança política no Brasil, pois ele renunciou a isso desde 29.10.45. Ninguém mais credenciado para responder a sua pergunta do que o Gen. Góes Monteiro, um dos brasileiros mais cultos em matéria de política e história brasileiras.

Repórter: Acha que as conquistas trabalhistas de Vargas sobreviverão a qualquer governo vindouro? Sim, basta ver os programas dos diversos candidatos.” Acho que faltou aqui uma resposta mais alongada do Dr. Maneco Vargas. Tiraram essas conquistas. Essa é a grande verdade.

“Repórter: Como se justifica a oposição dos PSBistas gaúchos ao PSD? Resposta: Será assunto do meu livro. Que acha do Governo do Sr. Ildo Meneghetti? Não votei nele, responde Maneco. Dirija a pergunta àqueles que lhe deram voto. Não tenho responsabilidade no fato de ser ele hoje o Governador. Mas respeito a opinião dos que o elegeram.” Olhem a elegância das respostas! E isso lá em 55.

“Repórter: Como encontrou a Prefeitura de Porto Alegre ao suceder o Sr. Meneghetti? Responde Maneco: Encontrei a Prefeitura em péssima situação, em todos os pontos de vista, mas a mim não cabe fazer crítica ou apontar responsáveis. Porém, procurar resolver os problemas do povo que confiou bem mim. Veja que resposta! Repórter: O PTB, ao seu ver, terá melhores resultados nas próximas eleições de 03 de outubro do que as que obteve no ano passado? Resposta: Estou demasiado atarefado com questões de caráter administrativo, e, sinceramente, não posso dar uma opinião baseada em conhecimento sobre as eleições de 3.10. Seria necessário um maior contato com os problemas político-eleitorais do que os que tenho agora. Para ser franco, as vezes não tenho tempo nem para ler jornais. Repórter: Se Getúlio estivesse vivo, como estaria agindo nessa sucessão? A linha política do PTB está de acordo com a sua pregação? Responde Maneco Vargas: O problema dos getulistas não é procurar adivinhar o que faria o Presidente se estivesse vivo, e sim, o que devemos fazer nós, depois de seu desaparecimento. Não se trata de procurar imitá-lo, e sim, de ser fiel ao seu testamento político, deixado por escrito em sua Carta.”

Esta é a entrevista que o Dr. Manoel Vargas prestou quando na Prefeitura, um ano após a tragédia que abalou o País. O companheiro Cunha, um velho getulista, me deu um xerox. É exatamente a ficha do Dr. Getúlio Vargas. É um documento histórico que deve ser encaminhado aos arquivos históricos, porque nós precisamos guardar a história, os seus acontecimentos, porque um povo sem história é um povo que perde o rumo, que perde os parâmetros, os referenciais. Mormente numa época em que vivemos com toda uma transformação profunda dos processos de relação, sejam elas relações de trabalho, sejam de relacionamento intelectual, onde a informatização, a computação, enfim, todo esse moderno processo, vai desligando essa seqüência vital que é fundamental para a Nação. Então, nós precisamos fazer história, pois é ela que estabelece os princípios básicos pelos quais devemos seguir à sua própria luz.

Esse é um documento histórico. É a ficha do Dr. Getúlio Vargas, assinada por ele, e diz: “PTB, Seção do Rio Grande do Sul. Sobrenome: Vargas - Dr. Getúlio Dornelles Vargas, casado, Advogado, na época, 62 anos, brasileiro, data do nascimento: 19 de abril de 83. Filho: Manuel do Nascimento Vargas e Cândida Dornelles Vargas. Título nº1, da carteira de identidade, assinatura: Getúlio Vargas.”

Então, homenageado, esposa, Prefeito, Presidente da Câmara, integrantes da Mesa, amigos, pessoas aqui presentes, getulistas - e vejo tantos getulistas aqui. Aqui o casal Ramiro e esposa numa noitada em que fizemos uma “paejada”, uma tertúlia, um serão lá na Casa do Ramiro com o Dr. Maneco Vargas, que estava usando barba naquela oportunidade.

Fica aqui a homenagem que prestamos ao Dr. Manoel Vargas, homenagem esta que se impunha pelo passado de V. Sª, pelo esforço e dedicação a esta Cidade, ao Estado, a seu pai - quem homenageia o filho evidentemente agradece ao pai; isso é das nossas tradições culturais, mormente neste momento em que vivemos de grandes e profundas dificuldades. Parece que, de repente, perdeu-se a memória. Quando olhamos para o passado e vemos homens que estiveram no poder - homens como Getúlio Vargas - que ficaram 20 anos no poder... 20 anos no poder... 30 até 45, apeado neste período, depois volta em 50 e vai até 54 com o suicídio. Vinte anos e jamais se ouviu dizer qualquer coisa que pudesse comprometer aquele homem que é o grande marco da história brasileira. Dr. Maneco Vargas passa pela Prefeitura, continua naquela sua vida de homem dedicado à atividade campeira, agropecuária. Outro dia a “Zero Hora” colocava uma fotografia muito bonita do senhor montado a cavalo lá na fazenda de Itaqui; são as coisas do nosso Rio Grande do Sul. Estão aqui muitos são-borjenses. Esta é a nossa homenagem, a nossa gratidão, o nosso desejo de que o senhor tire da fornalha o livro, porque vai ser um documento contado por alguém absolutamente isento, que viveu ao lado do grande estadista Getúlio Vargas.

Agradecemos aos que aqui estão, aos partidos políticos, às Bancadas, foi um voto que teve a unanimidade da Casa. Desejamos ao senhor, à sua esposa, aos seus filhos, aos seus netos, à sua família, que Deus permita que o senhor continue sempre firme, simpático. Rememorando, até parece que vejo a figura do Dr. Getúlio Vargas, aquela figura que aprendemos a admirar acima dos partidos políticos, o sorriso, a alegria, a fraternidade, a compreensão, esse olhar, esse gesto prenhe de humanidade, de fraternidade, isso constitui-se verdadeiramente um apanágio desta grande família, desta figura que veio lá do garrão do Rio Grande, São Borja, terra fértil, de lá saiu Getúlio Vargas, de lá saiu João Goulart, e dizem que saiu o General Aramburu, que também foi presidente da Argentina, o senhor e também o nosso Prefeito Tarso Genro, que muito honra a nossa Cidade, amigo nosso, que também é de lá daquele chão generoso que é São Borja.

Portanto, encero estas palavras, agradecendo a presença de todos e oxalá possamo-nos reunir para, de vez em quando, repensarmos esses momentos magníficos, pois aqui, verdadeiramente, pinçamos partes da história que devemos conservar para repassarmos às gerações futuras. Encerramos esta singela homenagem de uma profundidade histórica e um significado muito grande. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Para a honra desta Casa, registramos as presenças da Srtª Betina Vargas, filha do homenageado; do Cel. Sarmanho e de sua Esposa; da Jornalista Paula Gasparotto; do Sr. Almerindo Paiva Guimarães e de sua Esposa; do Ver. Elói; do Sr. Carlos da Cunha; do Sr. Henrique Enquin, todos caros  a esta Casa que tem a honra de recebê-los nesta tarde. Também o companheiro Léo de Souza, que representa a Direção Estadual da Juventude do PDT. Gostaríamos, também, de registrar as presenças dos Vereadores Jair Soares, Jocelin Azambuja e Luiz Negrinho. Já estiveram conosco os Vereadores Nereu D’Ávila e Maria do Rosário. Registramos a presença do Presidente do Sistema Financeiro do Estado do Rio Grande do Sul, Dr. Flávio Obino. Enfim, esta é uma tarde em que a Câmara Municipal sente-se honradíssima com a presença de todos os senhores. E, é claro, com a responsabilidade de ter um Cidadão de Porto Alegre com o peso, com o quilate político do Dr. Maneco Vargas.

Vamos passar a um momento solene desta Sessão.

Peço ao Prefeito Tarso Genro fazer a entrega do Diploma e da Medalha de Porto Alegre ao homenageado.

Convidamos, também, o Ver. Elói Guimarães para se fazer presente na Mesa.

 

(É feita a entrega do Diploma e da Medalha de Porto Alegre ao homenageado.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Exmo Sr. Prefeito Municipal, Dr. Tarso Genro.

 

O SR. TARSO GENRO: Prezado Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. Wilton Araújo; Exmo Sr. Homenageado, Dr. Maneco Vargas; Exmo Sr. Juiz do Tribunal de Alçada, Dr. Nelson Rassier; Ilmo Representante da ARI, Jornalista Firmino Cardoso;  Ilma esposa do homenageado, Srª Vera Vargas; nobre Ver. Elói Guimarães que suscitou, com o apoio unânime de todos os Vereadores, esta homenagem; Srs. Vereadores; familiares do homenageado; senhoras e senhores.

É com muita honra que, representando a cidadania de Porto Alegre, eu registro o orgulho que nós temos em receber o Dr. Maneco Vargas como Cidadão de Porto Alegre. Creio que uma história como a do Rio Grande do Sul, cheia de atos de rebeldia, como a Revolução de 30, cheia de atos em defesa do patrimônio jurídico e moral da Nação, como a Legalidade, enfim, uma história repleta de dignidade e de afirmação dessa cidadania que tem, talvez, na referência de São Borja, um dos seus momentos constituintes, essa história pode se dar o luxo de, às vezes, ter pouca imaginação, através de pequenos acasos de muito significado, mas, através dos quais, a história tece momentos singulares. Quando criança, em São Borja, lugar de onde me retirei em 1953, com a minha família, residia perto de uma casa onde a família Vargas freqüentemente se encontrava com meu pai, fundador do PTB, trabalhista histórico, convivia com Serafim Vargas, com Jango, enfim, com aquela plêiade de homens que têm um papel significativo na formação da democracia brasileira e na ruptura de 30, que cria as condições para o Brasil moderno. Pois, essa pequena casualidade e essa pouca imaginação secundária da história é que reúnem aqui, agora, aquele menino e o Dr. Maneco Vargas, duas pessoas de São Borja, duas pessoas com histórias e trajetórias diferentes e duas pessoas que se encontram num ato que revela a maior possibilidade de profundidade do indivíduo que vive numa pátria: a outorga de uma cidadania. De uma cidadania que é mero registro de uma relação de Porto Alegre com um ex-prefeito da Cidade de Porto Alegre, uma personalidade política do nosso País, mas de uma cidadania já firmada nacionalmente, não só pela presença da sua família no cenário histórico da Pátria, como também da sua personalidade registrada com honradez e dignidade.

Receba, Dr. Maneco, portanto, o abraço fraterno e carinhoso da Cidade, de um cidadão para o outro, de um Prefeito para o outro. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Temos a honra de conceder a palavra ao mais novo Cidadão de Porto Alegre, Dr. Manoel Antonio Sarmanho Vargas.

 

O SR. MANOEL ANTONIO SARMANHO VARGAS: Seja a minha saudação dirigida ao meu padrinho, Ver. Elói Guimarães, que representou, aqui a palavra de todos os Vereadores, de todas as Bancadas e de todos os partidos. Se todos o acharam digno disso, eu também concordo.

Exmo Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Sr. Wilton Araújo; Exmo Sr. Dr. Nelson Rassier, meu prezado amigo, Presidente do Tribunal de Alçada; Ilmo Sr. Representante da Associação Rio-Grandense de Imprensa, Jornalista Firmino Cardoso; Vera. Já passei um pouco da idade de usar a minha imaginação e a minha agilidade mental, de modo que tive de escrever algumas palavras para dizer aos meus amigos aqui presentes e aos meus parentes também.

(Lê.) “Em fevereiro de 1955, num passado que ainda não passou, estava eu sendo investido, por esta Câmara Municipal, no cargo de Prefeito da Cidade de Porto Alegre. Desde então, muita coisa mudou, ou melhor, tudo está bastante diferente. Surgiram novas caras, novos partidos, novas maneiras de fazer política, ao mesmo tempo em que muita coisa e muita gente era tragada pelo tempo.

As instalações também não são as mesmas. Da salinha apertada de um edifício, passamos para uma Casa espaçosa, um palácio, digno da majestade da representação popular. A cidade cresceu. O numero de Vereadores aumentou, assim como a complexidade de suas funções. Eu também mudei. Sou agora somente ex-prefeito, gentilmente convidado num congraçamento para, juntos, recordarmos o passado.

Nascido em São Borja, fui amansado nas estradas que trilhei, acompanhando o itinerário político de meu pai, deixando em cada pouso um pedaço de mim, e levando comigo somente uma parte de cada amigo que deixei.

Hoje vivo repartido entre esta Cidade onde reside parte da minha família e Itaqui, onde, junto com os meus filhos, continuo trabalhando na terra que recebi de meus antepassados.

Destro do nomadismo gaúcho, que faz parte do meu sangue e dos meus nervos, Porto Alegre é meu ponto de sesteada na contínua tropeada de minha vida andeja, meu amor porto-alegrense é um amor gostoso de dar e receber sem esperar a volta. Se dei alguma coisa, foi sem sentir que estava dando, e tudo o que recebi, recebi com humildade. Sinto que existe entre nós uma ligação afetiva de caráter fraterno, sem brigas nem arroubos passionais. Aqui comecei e aqui terminei minha breve intervenção na política e, hoje, já velho, atendendo a gentileza do convite dos Vereadores de Porto Alegre, venho visitar, socialmente, a Cidade, que eu amo e onde também vivo.

Mas não deve ser esta somente a razão de nosso encontro. Trocar amenidades e desfolhar margaridas são obrigações de caráter social que nunca devemos esquecer, mas, sempre que os homens se encontram é para conversar, trocar conhecimento, confrontar experiências. Apesar de não estar mais em causa e, quem sabe por isso mesmo, não posso deixar de aproveitar a oportunidade para falar da experiência adquirida durante a minha já longa existência. A política é a eterna procura de uma soma a que somente Deus pode atingir em sua plenitude, mas é uma obrigação de os homens continuarem sempre tentando. Por isso, a política tem algo de divino e de satânico; por isso não perdoamos os erros e os desvios cometidos pelos homens públicos; exigindo deles um comportamento à altura da quase divindade de sua missão. Dentro da concepção moderna do universo, o espaço é curvo e, portanto, o infinito nada mais é do que um eterno recomeço. A vida também é redonda. A extrema velhice nos traz de volta à primeira infância, e a morte nos devolve ao mundo dos vivos, sob a forma de gás carbônico e sais minerais. Bem aventurados aqueles que continuam vivendo, após a morte, no pensamento da posteridade. Estamos hoje em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, no Brasil e no mundo inteiro vivendo uma época de grandes transformações, para as quais a maioria dos homens não está preparada. As antigas somas foram superadas pela ciência e pela tecnologia. O velho mundo está morrendo e, portanto, um novo mundo está nascendo. O homem moderno voa a uma velocidade maior que a do som, o homem moderno comunica-se a uma velocidade igual à da luz, mas o homem moderno é tão desprotegido, tímido e violento quanto uma criança que perdeu o aconchego do útero e o acalento do seio materno. O homem moderno já foi à luta, quer saber o que existe em Marte, sonha com a Via Láctea, mas é incapaz de comunicar-se com seus vizinhos de porta, de comparecer a uma simples reunião do condomínio, interessar-se pela vida dos outros, ajudando ou deixando-se ajudar. A casa do homem moderno não é mais um castelo, mas uma prisão cercada de grades de ferro. E é esse homem que vota, e é essa diminuta parcela desprotegida, tímida e violenta, que precisa ser somada, para constituir uma sociedade de homens livres. Essa tarefa pertence a todos, mas principalmente aos Vereadores Municipais desta e de todas as Porto Alegre existentes no mundo inteiro. O Estado hoje é somente uma semi-soma de interesses flutuantes onde o poder do indivíduo é pulverizado. Fala-se muito em reformas de base. Os políticos falam em consultar as bases, mas eu nunca vi construir um edifício começando de cima para baixo. A nova base é o Município, é a cidade, é o bairro, é o quarteirão, é a tribo, único útero que resta para proteger o indivíduo, dentro dessa selva criada pelo homem.

Em boa hora V. Exas escolheram o nome de Aloísio Filho, o Vereador do 4º Distrito, para simbolizar o espírito desta Casa. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registramos a presença do Ver. Artur Zanella.

Resta-nos, nesta tarde em que a Câmara Municipal de Porto Alegre, por inspiração do Ver. Elói Guimarães e por votação unânime dos seus membros concedeu o Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Sr. Manoel Antonio Sarmanho Vargas, registrar que este ex-prefeito desta Cidade, sem dúvida nenhuma, já foi e está sendo por nós seguido como uma luz no horizonte, como uma trilha a ser alcançada e percorrida. Porto Alegre nada mais faz hoje, através dos seus representantes e do Sr. Prefeito Municipal, que reconhecer essa trilha, esse caminho, esse horizonte. Porto Alegre, Dr. Maneco, ganha, e ganha muito, com a sua cidadania e a sua permanência mais entre nós. Muito obrigado por estar aqui. Muito obrigado a todos os senhores.

Está encerrada a presente Sessão.

 

(Levanta-se a Sessão às 16h15min.)

 

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